segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A GRAVATA COMPRIDA

No dia e hora combinados, sentei-me diante de ninguém menos que Josué Häagen. Sim, ele mesmo! O próprio! Quem, um dia, me imaginaria aqui!? O tema da entrevista era as lições que ele obtivera ao longo da vida e que fizeram dele um dos mais respeitados empresários da siderurgia do Brasil e um dos mais prestigiados empreendedores do mundo. Por ter chegado mais cedo que o previsto (o trânsito, estranhamente, estivera a meu favor naquela manhã), pude reler com calma todo o extenso material que comecei a colher havia três semanas a respeito do entrevistado.

_ O senhor é filho de imigrantes... – comecei, um pouco nervoso.

O Sr. Josué foi encantadoramente receptivo e objetivo:

_ Sim, meus pais chegaram ao Brasil em 1946, fugindo da guerra. Mal falando nosso idioma, meu pai começou a exercer no Brasil a mesma atividade que desenvolvia na velha vida: era alfaiate (e dos melhores!). Com muito trabalho, fazia questão de proporcionar a mim e aos meus irmãos um estudo de qualidade. Estudávamos no mesmo colégio que os filhos dos ricos clientes de meu pai, que, sabendo desta minha condição, não raro me humilhavam e me esnobavam. Meu pai, descobrindo a razão do meu desânimo em ir para a escola, teve uma idéia que mudou minha vida: costurou-me uma gravata que, todos os dias, fazia questão de fazer-me o nó. Naquele tempo, a gravata fazia parte do nosso uniforme escolar. Mas a gravata que meu pai me fez era um pouco comprida demais. Especialmente comprida. Disse-me ele: “Não há no mundo coisa mais feia que um homem deselegante. Não podes, assim, deixar que a ponta da gravata fique abaixo da fivela do cinto!”. E assim fui eu com minha gravata comprida em direção à escola, esticando-me todo para não deixar a ponta descer do nível da cintura. Minha nova postura, é óbvio, causou estranheza aos demais alunos, que quiseram rir de mim. Mas esta minha nova postura, que não me permitia baixar a cabeça, foi me dando aos poucos uma sensação de força, de poder e de autoconfiança tamanhas que meus colegas de colégio logo se calaram, depois me olharam diferente, em seguida passaram a me respeitar e, antes do final daquele ano, já era bem quisto e admirado por todos.

Os olhos do empresário brilhavam.

_ Desde então – continuou – jamais me curvei novamente diante da dor, do medo, das dificuldades ou das pessoas. Hoje, nem a gravata nem meu pai existem mais, mas ambos permanecem ardendo no meu peito.